terça-feira, 30 de junho de 2009

Conjuntura Atual

Segundo José Nery, vamos analisar a conjuntura atual:
A prolongada e grave crise ética do Senado é um espelho dos problemas não resolvidos pela democracia brasileira. Formalmente somos um país que exercita periodicamente a consulta ao povo para eleger seus representantes. Na verdade, o financiamento privado das campanhas eleitorais, a cultura patrimonialista enraizada na máquina estatal e a impunidade dos delitos contra o erário público dão contornos elitistas e incompletos para esta democracia. O predomínio do poder econômico nas definições políticas, seja elegendo diretamente afilhados políticos, seja por meio de eficientes lobbys, destrói a legitimidade das decisões do Parlamento brasileiro.

A recente crise que arrasta o Senado para o mais profundo desgaste político é fruto deste contexto. Agrega-se a isto a existência de uma azeitada máfia, incrustada nos principais setores administrativos, que cresceu com o apoio e ou omissão de seguidas mesas diretoras. A edição de atos secretos é apenas um pedaço do iceberg. Temos todos os contratos de prestação de serviços terceirizados sob suspeita e até a concessão de empréstimos consignados foram afetados pelos esquemas de corrupção.

...

A crise imediata do Senado passa pela saída do atual presidente da Casa, senadorJOSÉ SARNEY, que não possui condições políticas para continuar dirigindo a Casa e tem vínculos estreitos com os principais acusados de pertencer a máfia ali instalada. As constantes denúncias envolvendo nomeações irregulares de familiares do presidente Sarney tornaram ingovernável a sua gestão.

Passa também pela instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a fundo, quebrar o sigilo bancário e telefônico de todos os servidores envolvidos e descobrir todos os vínculos da máfia, inclusive com senadores. O resultado dessa investigação deve orientar uma profunda reforma administrativa na Casa, além da adoção de medidas transparentes que permitam maior controle da sociedade sobre exercício da atividade parlamentar.

Infelizmente a trajetória anterior do Senado foi de não punir e nem de investigar a fundo. A ação que desenvolvemos para cassar os mandatos de senadores envolvidos em fatos que caracterizavam quebra de decoro parlamentar foi abortado pela cultura da impunidade.

Espero que a atual crise sirva de lição. O Senado Federal tem importância para a sociedade se conseguir aproveitar a atual crise e desmontar por completo a verdadeira máfia que se instalou no seu interior. É bem provável que esta máfia tenha laços com senadores, por isso cabe apuração rigorosa de todos os fatos e punição exemplar dos envolvidos, sejam eles servidores ou parlamentares. É o mínimo que a sociedade espera.

[Publicado no JB, 24/06/2009]

Os negritos foram por minha conta, pra dar ênfase no que é enfático.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O mundo segundo a Monsanto

A Monsanto é uma empresa norte-americana que se diz agrícola. Agrícola pois produz sementes de soja. Sementes estas, que são resistentes à um tipo de herbicida. Herbicida que a Monsanto é a maior produtora do mundo. 
A lógica é simples. Produzo sementes, que dependem do meu herbicida, que não podem ser replantados sem pagamento de royalties, ou seja, precisam de mais sementes, mais herbicidas, etc. 

Essa lógica seria plausível, no caso de uma empresa capitalista, se não fossem alguns pequenos detalhes sórdidos: os OMGs (organismos geneticamente modificados) são nocivos aos seres humanos, e ainda não foram suficientemente testados. O roundup (herbicida da Monsanto), comprovadamente causa câncer tanto nos plantadores quanto nos consumidores dos produtos que entraram em contato com o veneno. A empresa foi fabricante dos maiores produtos tóxicos da história, como o PCB (ácido utilizado em transformadores), ascarel, o agente laranja (usado no Vietnam para desfolhar árvores e contagiou os veteranos de guerra), aspartame (conhecidamente gerador de câncer cerebral), o famigerado cytotec (perigosamente usado como abortivo caseiro), hormônios proibidos na europa (que aumentam a produção leiteira de vacas, gerando câncer e problemas nas mesmas), o algodão mutante (que rendeu prejuizos enormes aos produtores de algodão), e muitos outros produtos biotecnologicos e amplamente destrutivos à humanidade. 

Esta empresa não merece nossa consideração. Quem formatou essas informações foi a jornalista francesa Marie-Monique Robin, no livro "O Mundo Segundo a Monsanto", também em vídeo no documentário de mesmo nome. Um livro realmente elucidante.

Quem quiser emprestado, é só pedir!

sexta-feira, 20 de março de 2009

A culpa é minha!

Pra começar o ano bem, um texto de Ricardo Noblat.

Vamos assumir: a culpa é nossa!

Quando a ditadura militar baixou o Ato Institucional nº 5 em dezembro de 1968, alguém disse que temia mais o ato pelo uso que um guarda de trânsito poderia fazer dele do que pelo uso que faria o governo.

O ato marcou a retirada da máscara da ditadura. Ela fingia que era uma didatura boazinha. A partir dali se assumiu como ditadura - com toda a brutalidade que caracteriza as ditaduras, sejam elas de esquerda ou de direita.

Uma vez que o AI 5º permitiriu ao governo fechar o Congresso, cassar mandatos, aposentar juízes, suspender o habeas corpus, prender, torturar e matar, ele certamente estimularia a arbitrariedade na ponta mais baixa do arco do aparelho repressor do Estado.

O guarda de trânsito estaria nessa ponta.

Dá-se o mesmo com a impunidade - e é claro que isso não é de hoje. Talvez tenha se agravado devido à lerdeza da Justiça, à tolerância dos demais poderes e à crescente sofisticação do país.

Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e um dos cérebros do mensalão, está por aí a preparar sua candidatura a deputado federal. Tudo o que perdeu foi sua filiação ao partido.

O jornalista Pimenta Neves, condenado por ter matado sua ex-namorada com três tiros pelas costas, frequenta certos círculos da alta sociedade de São Paulo como qualquer inocente endinheirado o faria.

A delegada Cantaduva Rosana da Silva Vanni confessou na CPI da Pedofilia que antecipou para o advogado de um dos suspeitos de crime tão abjeto a notícia sobre a futura apreensão de um computador.

Quando ela mesma foi apreender o computador só restava dele o monitor. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ainda nada fez contra a delegada.

O Congresso cheira mal. Mas direita e esquerda, governo e oposição, só se preocupam em reduzir os estragos provocados pelos escândalos que pipocam a cada dia.

Esqueçam. Não haverá reforma de costumes e de comportamento para valer no Senado e na Câmara. Haverá no máximo uma meia-sola vagabunda.

O senador José Sarney (PMDB-AP) diz que é um homem sem futuro - só tem passado. Nada mais teria a perder. Com isso insinua sua disposição para varrer o lixo que se acumula nos gabinetes e corredores do Senado.

Digamos que  ele tentasse passar da intenção ao gesto. Aquela cúpula do prédio do Congresso que assinala onde funciona o Senado desabaria na cabeça dele.

Quem disse que a maioria dos senadores quer reformar alguma coisa? A não ser para ampliar seus privilégios. Os deputados não são diferentes.

A tarefa de desinfetar o Congresso cabe aos eleitores. Ou seremos capazes de ir além da mera indignação ou tudo permanecerá como está.

Pelo nosso baixo índice de consciência política e elevado espírito de resignação, não creio que viverei o suficiente para ver emergir uma nova geração de parlamentares decentes