sexta-feira, 20 de março de 2009

A culpa é minha!

Pra começar o ano bem, um texto de Ricardo Noblat.

Vamos assumir: a culpa é nossa!

Quando a ditadura militar baixou o Ato Institucional nº 5 em dezembro de 1968, alguém disse que temia mais o ato pelo uso que um guarda de trânsito poderia fazer dele do que pelo uso que faria o governo.

O ato marcou a retirada da máscara da ditadura. Ela fingia que era uma didatura boazinha. A partir dali se assumiu como ditadura - com toda a brutalidade que caracteriza as ditaduras, sejam elas de esquerda ou de direita.

Uma vez que o AI 5º permitiriu ao governo fechar o Congresso, cassar mandatos, aposentar juízes, suspender o habeas corpus, prender, torturar e matar, ele certamente estimularia a arbitrariedade na ponta mais baixa do arco do aparelho repressor do Estado.

O guarda de trânsito estaria nessa ponta.

Dá-se o mesmo com a impunidade - e é claro que isso não é de hoje. Talvez tenha se agravado devido à lerdeza da Justiça, à tolerância dos demais poderes e à crescente sofisticação do país.

Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e um dos cérebros do mensalão, está por aí a preparar sua candidatura a deputado federal. Tudo o que perdeu foi sua filiação ao partido.

O jornalista Pimenta Neves, condenado por ter matado sua ex-namorada com três tiros pelas costas, frequenta certos círculos da alta sociedade de São Paulo como qualquer inocente endinheirado o faria.

A delegada Cantaduva Rosana da Silva Vanni confessou na CPI da Pedofilia que antecipou para o advogado de um dos suspeitos de crime tão abjeto a notícia sobre a futura apreensão de um computador.

Quando ela mesma foi apreender o computador só restava dele o monitor. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ainda nada fez contra a delegada.

O Congresso cheira mal. Mas direita e esquerda, governo e oposição, só se preocupam em reduzir os estragos provocados pelos escândalos que pipocam a cada dia.

Esqueçam. Não haverá reforma de costumes e de comportamento para valer no Senado e na Câmara. Haverá no máximo uma meia-sola vagabunda.

O senador José Sarney (PMDB-AP) diz que é um homem sem futuro - só tem passado. Nada mais teria a perder. Com isso insinua sua disposição para varrer o lixo que se acumula nos gabinetes e corredores do Senado.

Digamos que  ele tentasse passar da intenção ao gesto. Aquela cúpula do prédio do Congresso que assinala onde funciona o Senado desabaria na cabeça dele.

Quem disse que a maioria dos senadores quer reformar alguma coisa? A não ser para ampliar seus privilégios. Os deputados não são diferentes.

A tarefa de desinfetar o Congresso cabe aos eleitores. Ou seremos capazes de ir além da mera indignação ou tudo permanecerá como está.

Pelo nosso baixo índice de consciência política e elevado espírito de resignação, não creio que viverei o suficiente para ver emergir uma nova geração de parlamentares decentes