quarta-feira, 23 de junho de 2010

O exemplo que o Brasil precisa

O exemplo de Manoel da Conceição

Sergio Granja

Em meio à esculhambação da representação política e à mercantilização das eleições, eis que surge uma surpresa edificante: o exemplo de coerência e dignidade dado por Manoel da Conceição a um país distraído com o futebol. Lutador social indomável, Manoel, aos 75 anos, arrisca a saúde para colocar em primeiro plano seu compromisso político e ideológico, a razão de sua vida de lutas e ideais. Trata-se, convenhamos, de uma estirpe que rareia: a daqueles que conservam uma têmpera própria dos que quebram mas não vergam. E, no inusitado de seu gesto, nos convoca.

Vamos aos fatos. O PT do Maranhão decidiu apoiar a candidatura do deputado Flávio Dino (PCdoB) ao governo do estado. Contrariado em sua aliança com Zé Sarney (ex-UDN, ex-ARENA, ex-PDS, ex-PFL e atualmente no PMDB do Amapá), o diretório nacional do PT interveio: anulou a decisão do diretório estadual e apoiou a candidatura de Roseana Sarney, que já foi PLF e agora veste a camisa do PMDB. Com este singelo gesto de prepotência e oportunismo, Lula e o PT que negou a si mesmo, depois de contribuirem tanto para desmoralizar a esperança, involutariamente podem estar nos ajudando a vencer a tibieza que lançou a esquerda brasileira no lodo da descaracterização. Tudo tem limite. Desta feita, o pragmatismo passou da medida. Inconformado, o petista Manoel da Conceição não se conteve: Abaixo a República dos Sarney!

Pobre do povo que precisa de heróis, já se repetiu à beça, por vezes com deslavado cinismo. Nesta quadra, não obstante, estava fazendo falta um Manoel da Conceição.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Lula e sua popularidade II

Maílson da Nóbrega

Quem descobriu o Brasil?
Lula ou Cabral?

Os menos avisados que escutam Lula podem pensar que fomos descobertos em 2003, e não em 1500. Seus discursos buscam deslustrar seus antecessores e propagandear o que entende como seus feitos. Não exagera a ponto de reivindicar a glória do descobrimento, mas chega perto. Diz que mudou o Brasil.

Lula se gaba de ser o autor das boas transformações do país. É o que disse na Bahia, em março passado: "Este país começou a mudar, e isso incomoda muita gente". Bajuladores não faltam, como o que lhe atribuiu o epíteto de "nosso guia".

No lançamento do PAC 2, Jaques Wagner, governador da Bahia, disse que "Lula está refundando o Brasil". Para a então ministra Dilma Rousseff, "este é o Brasil que o senhor, presidente Lula, recuperou para nós e que os brasileiros não deixarão escapar de suas mãos". Adulado e popular, Lula se imagina o marco zero.

Mudanças como essas não acontecem em curto prazo. A Europa começou a emergir no século XV – suplantando a China e o mundo islâmico, até então centros de inovação e poder –, mas o processo de sua ascensão se iniciara muito antes, com destaque para a Carta Magna inglesa (1215) e para o Renascimento, que começou no fim do século XIII.

Antes, mudanças ocorreram em áreas cruciais: cultura, sociedade, economia, política e religião. Copérnico, Vesálio e Galileu criaram a ciência moderna, abrindo caminho para o avanço tecnológico. Gutenberg revolucionou a imprensa. Depois, a reforma protestante de Lutero (século XVI) e a Revolução Gloriosa inglesa (1688) se tornaram fonte do moderno sistema capitalista e do predomínio econômico e militar do Ocidente.

Indivíduos à frente de seu tempo contribuíram para mudanças ciclópicas. Entre 1776 e 1787, os pais fundadores da nação americana – os que participaram da Declaração de Independência, da Revolução ou da elaboração da Constituição – moldaram os princípios formadores dos alicerces sobre os quais se erigiria seu grande futuro.

Felipe González, o governante socialista espanhol (1982-1996), abandonou velhas ideias e conduziu reformas estruturais, incluindo ampla privatização. Preparou seu país para a integração europeia e para longo ciclo de crescimento. Margaret Thatcher reverteu a trajetória de declínio da Inglaterra. Ronald Reagan renovou o capitalismo americano.

O Brasil tem seus líderes transformadores. Entre outros, José Bonifácio, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. No período militar, sobressaem Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, este em grande parte responsável pelo fim pacífico do autoritarismo.

Ao proclamar-se o início de tudo, o presidente presta um mau serviço à história e aos brasileiros que gostam de ouvi-lo. Despreza o papel de Tancredo Neves na transição para a democracia, sem a qual não teria chegado ao poder. Obscurece a participação de Fernando Henrique Cardoso na construção da plataforma de lançamento da qual decolou.

Lula gostaria de ser lembrado como um Getúlio ou um Juscelino, mas creio que a história – a quem cabe apontar o lugar dos atores políticos – o reconhecerá pelas corajosas decisões de preservar a política econômica – que condenava – e de não buscar o terceiro mandato. Evitou, assim, o retorno da inflação e o abalo das instituições políticas, que precisam de tempo para se consolidar.

A continuidade deu tempo para o amadurecimento de mudanças anteriores. Permitiu-nos colher frutos da expansão da economia mundial e da emergência da China, hoje forte demandante de nossas commodities. Crescemos acima da média dos últimos 25 anos. As exportações triplicaram. Com estabilidade, crescimento e baixa inflação, foi possível alargar políticas sociais e assim reduzir as desigualdades sociais e a pobreza.

Lula é um líder de massas sem paralelo na América Latina. Politicamente populista, não foi desastrado na economia, embora deixe más heranças, como o aparelhamento do estado, a piora da qualidade do regime fiscal e os efeitos da inconsequente política externa.

Lula não descobriu o Brasil nem foi um líder transformador, mas não fez o estrago que se temia. Não é pouco. Não precisava, todavia, desconstruir as realizações do passado para marcar seu lugar na história, que parece garantido

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lula e sua popularidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito nesta quinta-feira (29) pela revista americana “Time” um dos líderes mais influentes do mundo. Lula aparece na lista com 25 nomes ao lado de J.T Wang, presidente da empresa de computadores pessoais Acer, o almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, o presidente americano Barack Obama e Ron Bloom, assessor sênior do secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Essa é a segunda vez que o brasileiro aparece em uma lista da publicação. A primeira foi em 2004.

Em um primeiro momento, a revista divulgou a lista das personalidades mais influentes sem indicar os critérios de classificação. No site, o presidente brasileiro aparece na primeira colocação da lista de "líderes", ao lado do número 1. O UOL Notícias entrou em contato com o departamento de Relações Públicas da revista, que esclareceu que a lista das pessoas mais influentes do mundo não é elaborada em forma de ranking. Segundo a assessoria, "a Time não faz distinção no nível de influência das 100 pessoas que aparecem na lista."

No perfil escrito pelo cineasta Michael Moore, o programa Fome Zero (praticamente substituído pelo Bolsa Família) é citado como destaque no governo do PT como uma das conquistas para levar o Brasil ao “primeiro mundo”. A história de vida de Lula também é ressaltada por Moore, que chama o presidente brasileiro de “verdadeiro filho da classe trabalhadora da América Latina”.

A revista relembra que Lula decidiu entrar para a política quando, aos 25 anos, perdeu sua primeira esposa Maria, grávida de oito meses, pelo fato de os dois não terem acesso a um plano de saúde decente. Ironizando, Moore dá um recado aos bilionários do mundo: “Deixem os povos terem bons cuidados com a saúde, e eles causarão muito menos problemas para vocês”.

Moore afirma que quando os brasileiros elegeram Lula pela primeira vez em 2002, os "barões do roubo", que transformaram o país em um dos locais mais desiguais do planeta, nervosamente verificaram os medidores de combustível de seus jatos particulares.

Entre os líderes em destaque também estão a ex- governadora do Alasca e ex-candidata republicana à Vice-Presidência dos EUA, Sarah Palin; o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn; os primeiros-ministros japonês e palestino, respectivamente Yukio Hatoyama e Salam Fayyad, e o chefe do Governo da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

A lista mostra os 100 nomes de pessoas mais influentes do mundo em diversas áreas –líderes da esfera pública e privada, heróis, artistas, pensadores, entre outros.

Outras posições de destaque


Lula apareceu no ranking da "Time" pela primeira vez em 2004, dois anos depois de ser eleito pela primeira vez à Presidência. Na ocasião, Lula ganhou destaque pela posição na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) no México, em setembro passado, quando liderou uma coalizão de nações em desenvolvimento que se recusaram a negociar novas regras de investimento estrangeiro até que os EUA e a União Europeia prometessem o fim dos subsídios agrícolas à exportação.

O perfil do presidente em 2004 afirmava que "ao contrário dos radicais contra a globalização, Lula, 58, insiste que não quer destruir a nova ordem mundial. Ele só quer que funcione de forma mais justa." O texto lembrava também os escândalos de corrupção que caíram sob seu governo, mas ressaltava que, apesar de alegações, ele havia se tornado porta-voz do novo mundo em desenvolvimento.

Ano passado, Lula ganhou destaque internacional quando foi eleito personagem do ano pelo jornal espanholEl País e pelo francês Le Monde.

Mais categorias


O ex-presidente americano Bill Clinton aparece em destaque na categoria dos “heróis” pelo trabalho realizado no Haiti depois do terremoto de 12 de janeiro por meio da ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo seu perfil, escrito pelo cantor Bono Vox, da banda irlandesa U2, “sem ele, o universo não seria tão amigável para os seres humanos.”

Ao lado de Clinton aparecem: a sul-coreana Kim Yu-na, que conseguiu o primeiro ouro em patinação artística para seu país em Vancouver; o opositor iraniano Mir Hussein Musavi, e o ator Ben Stiller por seu trabalho na reconstrução de escolas no Haiti.

A cantora Lady Gaga aparece na categoria “artistas” e recebe elogios da colega Cyndi Lauper, que mostra sua admiração pelo trabalho da nova-iorquina de 24 anos. Lauper destaca que “a arte de Lady Gaga capta o período em que estamos agora” e rasga elogios à postura polêmica de Gaga: “ela mesma é a arte. Ela é a escultura.”



Além disso também aparecem a cantora Taylor Swift, os atores Ashton Kutcher e Neil Patrick Harris, assim como o produtor e popular juiz do programa de talentos "American Idol", Simon Cowell.

Outros que estão na lista artística são: o humorista Conan O''Brien, que abandonou seu programa na rede de televisão americana "NBC"; a cineasta Kathryn Bigelow, primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor direção por seu filme "Guerra ao Terror" e a apresentadora Oprah Winfrey.

Ex-governador do Paraná aparece em lista


Na lista dos “pensadores”, o urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, aparece em destaque por seu “maravilhoso legado de sustentabilidade urbana", destacado pelo prefeito de Vancouver.

A revista "Time" também inclui uma análise de quem de sua lista são os mais influentes na internet, através de uma análise do número de seguidores e de conexões que essas pessoas acumulam nas redes sociais Facebook e Twitter.



Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2010/04/29/lula-e-eleito-o-lider-mais-influente-do-mundo-pela-time.jhtm


"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam."

Arnold Toynbee - economista político da revolução industrial.

Vamos conversar sobre POLITICA?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Definição de Analfabetismo Político

O Analfabeto Político
Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A revolução midiática

silêncio é, paradoxalmente, um dos principais mecanismos adotados pelos meios de comunicação para manipular os fatos. Se uma notícia não interessa aos donos da imprensa e, consequentemente, aos donos do mundo, ela simplesmente não é veiculada. Tal denúncia é feita pelo jornalista espanhol Pascual Serrano, um dos fundadores da página alternativa Rebelión e autor do livro “Desinformación. Como los médios ocultan el mundo”, lançado no ano passado.
“Se contarem muitas mentiras, perderão sua credibilidade, perderiam sua eficácia como mecanismo de formação de opinião”, diz, em conversa na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP). Portanto, segundo ele, os meios, além de ignorarem seletivamente determinados fatos, lançam mão de outros expedientes, como a descontextualização e a linguagem enviesada. Para Serrano, só há um modo da esquerda se defender de tamanha manipulação. Criar seus próprios meios, em vez de ficar esperando por pequenos espaços na grande mídia.

Isso que devemos fazer. Isso que iremos fazer.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Conjuntura Atual

Segundo José Nery, vamos analisar a conjuntura atual:
A prolongada e grave crise ética do Senado é um espelho dos problemas não resolvidos pela democracia brasileira. Formalmente somos um país que exercita periodicamente a consulta ao povo para eleger seus representantes. Na verdade, o financiamento privado das campanhas eleitorais, a cultura patrimonialista enraizada na máquina estatal e a impunidade dos delitos contra o erário público dão contornos elitistas e incompletos para esta democracia. O predomínio do poder econômico nas definições políticas, seja elegendo diretamente afilhados políticos, seja por meio de eficientes lobbys, destrói a legitimidade das decisões do Parlamento brasileiro.

A recente crise que arrasta o Senado para o mais profundo desgaste político é fruto deste contexto. Agrega-se a isto a existência de uma azeitada máfia, incrustada nos principais setores administrativos, que cresceu com o apoio e ou omissão de seguidas mesas diretoras. A edição de atos secretos é apenas um pedaço do iceberg. Temos todos os contratos de prestação de serviços terceirizados sob suspeita e até a concessão de empréstimos consignados foram afetados pelos esquemas de corrupção.

...

A crise imediata do Senado passa pela saída do atual presidente da Casa, senadorJOSÉ SARNEY, que não possui condições políticas para continuar dirigindo a Casa e tem vínculos estreitos com os principais acusados de pertencer a máfia ali instalada. As constantes denúncias envolvendo nomeações irregulares de familiares do presidente Sarney tornaram ingovernável a sua gestão.

Passa também pela instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a fundo, quebrar o sigilo bancário e telefônico de todos os servidores envolvidos e descobrir todos os vínculos da máfia, inclusive com senadores. O resultado dessa investigação deve orientar uma profunda reforma administrativa na Casa, além da adoção de medidas transparentes que permitam maior controle da sociedade sobre exercício da atividade parlamentar.

Infelizmente a trajetória anterior do Senado foi de não punir e nem de investigar a fundo. A ação que desenvolvemos para cassar os mandatos de senadores envolvidos em fatos que caracterizavam quebra de decoro parlamentar foi abortado pela cultura da impunidade.

Espero que a atual crise sirva de lição. O Senado Federal tem importância para a sociedade se conseguir aproveitar a atual crise e desmontar por completo a verdadeira máfia que se instalou no seu interior. É bem provável que esta máfia tenha laços com senadores, por isso cabe apuração rigorosa de todos os fatos e punição exemplar dos envolvidos, sejam eles servidores ou parlamentares. É o mínimo que a sociedade espera.

[Publicado no JB, 24/06/2009]

Os negritos foram por minha conta, pra dar ênfase no que é enfático.